27 abril 2015

Parentalidade Positiva


No meu aniversário, celebrado este mês, recebi uma prenda a pedido: o livro "Parentalidade Positiva" do pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Esta manhã li uma passagem que me tocou especialmente e que partilho convosco:

"Pais, são os vossos olhos o primeiro espelho do bebé, da vossa criança, do vosso filho. É no sorriso do adulto que o ama que ele encontra a expressão mais doce de confirmação da sua própria existência. Só por esse sorriso poderá um dia vir a sorrir também. Será assim pela vida fora: convença-se de que essa tarefa tão simples é não só real como quotidiana.
Os pais são o espelho sempre continuado da vida dos filhos. O olhar de confirmação que eles procuram, a fonte diariamente reforçada de um amor-próprio que circula como seiva para além de qualquer pergunta, acima de qualquer resposta, e alimenta os ramos, as folhas, mais tarde as flores. E os filhos são a imagem do que, a cada momento das suas vidas, os pais lhes puderem ou quiserem dar, a expressão mais visível de um jardim parental."

Tão bom haver quem consiga dar vida às palavras.
V.
 

13 março 2015

Amniocentese



O ano passado, por esta altura, estava a conceber a minha filha. Tinha ido ao encontro do meu marido, que estava a trabalhar nos Alpes e aconteceu, sem que o tivessemos planeado. Tinha 37 anos, quando engravidei e tinha 38 quando dei à luz. Esta questao dos anos, na gravidez, é quase como nas entrevistas de emprego em que vemos a nossa idade sublinhada varias vezes quando passamos dos 35. Na gravidez, a partir desta idade ha mais reticências, tem que haver mais cuidados com algumas coisas. Durante as varias etapas somos regularmente confrontadas com resultados que nos permitem situar dentro ou fora normalidade. 
Uma tarde, tinha ido almoçar com a minha mae a Cascais e tinhamos planos para ir passear à tarde, era a primavera e o dia parecia ligeiro. Mas um telefonema da médica obstetra veio perturbar a minha tranquilidade: tinha recebido os resultados das minhas analises ao sangue e os valores estavam fora da normalidade. Disse que podia receber-me nessa tarde e dirigimo-nos imediatamente para la. De acordo com o rastreio combinado (analises e ecografia), tendo em conta a minha idade (e outros parâmetros) a possibilidade de eu ter um bébé com trissomia era de 1 para 300 e tal. Disse-me para nao me preocupar, que a probabilidade era pequena, mas eu nao consegui deixar de pensar nisso. Marquei uma consulta pré natal com uma medica que iria explicar-me aqueles resultados e falar-me de todas as possibilidades desses mesmos resultados. Depois de a ouvir decidi que iria fazer a amniocentese. Sou uma pessoa ansiosa e muito mariquinhas, mas para passar 9 meses serenos precisava deste exame que é o único exame de diagnostico entre os três que costumam propor em casos destes. No dia da amniocentese tive que tomar um comprimido especifico para esse exame. Estava marcado para depois do almoço e eu estava super nervosa. A medica que o fez é uma pessoa muito serena e que me transmitiu imensa calma. Explicou-me tudo e o exame começou. Eu nao quis ver nada. Fechei os olhos, apertei a mao do meu marido e tive que tentar relaxar a barriga. Depois de desinfectarem a zona da intervenção e com auxilio do ecografo, a medica "empurrou" o bebe para o lado oposto ao da agulha. Este exame invasivo tem uma probabilidade de aborto tao grande como a probabilidade que eu tinha de nascer um bebe com trissomia. Introduziram a agulha, uma picada que se sente mas que nao é dolorosa, contudo quando chega à parte do liquido amniotico sente-se uma dor um bocadinho semelhante à dor da menstruação que dura poucos segundos. Extraíram um pouco do liquido e o exame estava concluído. Tive que ficar dois dias deitada e mexer-me muito pouco ou quase nada para diminuir o risco de aborto. O resultado deveria chegar no dia seguinte porque tinha escolhido uma "opção rápida". Esse tempo de espera pareceu uma eternidade e a resposta chegou ao fim da tarde por mensagem no telemovel a dizer que estava tudo normal e que nao havia motivo para preocupações. A única questão para a qual ainda nao havia certezas, porque a opção rápida nao tinha dado tempo para o determinar, era o sexo do bébé. Respirei fundo e nem liguei, naquele momento, isso, era so um pormenor. Deste teste fiquei a saber que ha muitas mais trissomias do que aquelas que eu conhecia. Que algumas sao facilmente detectaveis na ecografia como a trissomia 13 e a 18 que sao mais severas. Para a trissomia 21 também existem critérios que podem ser indices importantes e por isso têm em conta a observaçao da tranluscência da nuca e os ossos nariz.

Em caso de trissomias, para as maes que escolhem nao continuar com a gravidez, a interrupçao é possivel até às 24 semanas. Para mim foi fundamentel fazer este exame, so assim consegui pôr imagens no meu futuro enquanto mae. Claro que ha coisas imprevisíveis que podem acontecer, à posteriori, para as quais nao estamos preparadas e que nao sao detectáveis em todos os exames que fazemos durante os 9 meses, mas para mim era importante ter, pelo menos, esta certeza. 

26 fevereiro 2015

85 dias

Cada dia que passa conheço melhor a minha filha... e o meu amor cresce. Foram 85 dias juntas... 85 dias de tantas mudanças, de tantas dúvidas... 85 dias de sorrisos bonitos. 85 dias em que te vi crescer: os primeiros sorrisos, os teus olhos agora atentos e vivos, as mãos que querem agarrar, as primeiras "conversas", a primeira gargalhada... Passamos os dias juntas, tento conciliar os meus afazeres com os teus horários... e às vezes não é facil mas é tão bom ter-te aqui... lembras-me sempre do que é mais importante.

De repente começo distinguir os choros, percebo se tens fome, se tens sono, se estás aborrecida... e tenho a sensação de que cada dia nos entendemos melhor. Acerto e engano-me também, aquilo que é hoje não tem que ser amanhã, não há certezas absolutas... mas essa é a magia.

22 fevereiro 2015

Amamentar sim ou não?



Amamentar é um dos assuntos de que mais falamos e em que mais pensamos quando estamos grávidas. 

Amamentar sim ou não? Para algumas mães a resposta é evidente para outras não, pelas mais diversas razões. Para mim, sempre foi uma certeza, antes de tudo, por todas as qualidades e benefícios que o leite materno tem para os bebés. O que eu não imaginava, nesse tempo, era que um acto que sempre me pareceu tão natural podia ser uma coisa tão difícil.
Quando o meu parto por cesariana terminou e me levaram para a sala do recobro trouxeram-me a Mathilde e disseram-me para começar a amamentar. Uma enfermeira veio ajudar-me para que a minha filha pegasse no meu mamilo e começasse a beber o colostro, um liquido transparente muito nutritivo para os bebés. Apertou-me os mamilos e concluiu que eu tinha uma quantidade de colostro muito razoável, disseram-me como fazer para dar de mamar e aquilo que parecia extremamente facil e espontâneo não aconteceu comigo. Não consegui ter o jeito para que a minha filha fizesse uma pega correcta. Depois trouxeram-me um mamilo de cilicone que facilitou a tarefa. Mais tarde, no quarto, voltei a tentar sem o mamilo artificial e adoptei a posição deitada. Contudo, continuava sem conseguir que a Mathilde mamasse. Chamei várias vezes a enfermeira que conseguia pôr-lhe o mamilo na boca, mas eu não e não conseguia perceber porquê. Sempre que eu ia amamentar, durante o tempo que estive no hospital, tinha que chamar a enfermeira. 
Amamentar doi muito nos primeiros tempos, é preciso saber disso e estar preparada para isso. Aquilo que vemos nos cartazes bonitos de publicidade do olhar cumplice entre maes e filhos existe, sim, mas não na primeira semana de amamentação. A esta dor é preciso juntar uma grande dose de paciência e compreensão para com os mamíferos que saíram do nosso corpo habituados a serem alimentados sem qualquer esforço e que, agora cá fora, lutam pela sobrevivência. São dorminhocos e param de mamar constantemente, sendo necessário acordá-los, estimulá-los debaixo do queixo, esfregando os pézinhos, despindo-os para eles não pensaram que ainda estão na nossa barriga e que tudo é como antes. Há que aprender a técnica da sucção e muitas outras coisas, agora.

Ao segundo dia depois do parto fiquei com o peito enorme. Lembro-me de estar na casa de banho, em frente ao espelho e de nao querer acreditar no tamanho das minhas "maminhas". Mas nao sofri com a "subida do leite" como acontece a muitas pessoas.

Quando vim para casa trouxe o mamilo de cilicone comigo. Dava de mamar de 2 em 2 horas ou de 3 em 3 horas, de acordo com o ritmo da Mathilde. Sempre que ela se aproximava do mamilo era uma luta para conseguir que a pega resultasse e, quando finalmente isso acontecia, a dor era enorme, de ir às lagrimas. Tudo isto, aliado ao facto de ela estar sempre a parar de comer começou a deixar-me desesperada ao ponto de que cada vez que a hora de amamentar se aproximava eu inventava desculpas para dar o leite artificial e não querer dar o leite materno. Mas a certeza de que aquilo era o melhor para a minha filha e consciente de que a paciência é uma das minhas maiores virtudes persisti e, ao cabo de uma semana e meia, comecei a associar a amamentação a um momento de prazer, comecei a deixar de pensar na parte técnica e comecei a olhar para mim como uma heroína cujo corpo é capaz de alimentar a sua cria, comecei a ver as expressões da minha filha quando pegava na minha maminha, os olhos revirados de prazer, saciada pelo leite e por aquele momento de calor, junto a mim, aconchegada nos meus braços. Hoje, ainda partilhando o leite materno e o leite artificial olho para estes momentos como um privilégio e sinto um prazer imenso em podermos estar tão perto uma da outra, barriga contra barriga como mandam as técnicas da amamentação, a mão dela no meu corpo, a minha mão no corpo dela, olhamo-nos nos olhos e o nosso amor torna-se mais forte do que qualquer cordão umbilical.

Constatei em diversas ocasiões que há uma pressão grande à volta da amamentação. Há muita informação sobre os benefícios do leite materno e, claro, é um dever informar as pessoas para que elas possam tomar uma decisão informada, que considerem a melhor para elas. A escolha de amamentar é de cada um, mesmo que as pessoas conheçam todas as virtudes do leite materno têm o direito de optar pelo leite artificial. Para mim, amamentar deve ser um prazer e se este da lugar a ansiedade, a dores de cabeça, se a hora das refeições se torna um tormento, o melhor optar pelo que nos deixa mais serenas. Muitos de nós fomos alimentados apenas com leite artificial, eu faço parte dessas pessoas, e ainda estou aqui para contar estórias de mães.

19 fevereiro 2015

Um sorriso...



O meu menino detesta que se lhe limpe o narizinho com soro. Até dá dó só de imaginar que depois deste gesto ele desata num berreiro, muito sentido com a maldade que lhe fizemos.
Mas, no instante seguinte, é capaz de nos brindar com o sorriso mais lindo deste mundo.
E assim, de uma forma impressionante, este ser tão pequenino dá-nos uma grande lição: sim, podemos protestar quando nos sentimos magoados, mas sem guardar rancor e depois devemos seguir abraçando a vida com um sorriso nos lábios...

V.

13 fevereiro 2015

Marsupiando...



Confesso que entre marsúpios, slings e panos, prefiro os marsúpios. Ou melhor, porta-bebés ergonómicos. Tenho dois. Um que me deram e me parece mais apropriado para os primeiros meses, e outro que comprei que tem apoio lombar e alças almofadadas. Para mim, que tenho problemas de coluna, é o ideal, pois distribui melhor o peso do bebé pelos ombros e costas.

Já tinha andado com o meu rebento no marsúpio pela casa fora. Ele deve adorar, porque assim que começo a andar ele adormece. Inclusivamente temos um momento diário de "dança no marsúpio".

Mas como o tempo esta semana tem estado bastante agradável, lá me aventurei a ir para a rua. Vesti-lhe o macacão de pêlo para ele ir quentinho (sim, porque nesta altura do ano parece-me que a prioridade ao transportá-los desta forma é garantir uma vestimenta bem quente e proteção especial de mãos e pés, que vão de fora) e lá fomos nós.

Belo passeio em zona tranquila a ouvir o som dos passarinhos...

Já no regresso cruzamo-nos com duas velhotas que estavam em amena cavaqueira. Diz-me uma delas: "É verdadeiro?" E eu pensei espantada "Verdadeiro como???" Disse-lhe: "Sim, é verdadeiro." Então a senhora sorri e diz-me: "Ah, é que me parecia que levava aí um peluche." Foi a minha vez de sorrir. E seguimos para casa...

V.

12 fevereiro 2015

Seguindo o coração...



Teorias há muitas...
Alimentação, transporte, chupeta, sono, são alguns dos temas que dão origem a horas de conversas e troca de opiniões.
Mas, por muito convictas de certos ideais que possamos ter, nunca nos podemos esquecer que do outro lado está um ser com a sua individualidade e vontades próprias.
Podemos tentar implementar algumas das nossas ideias, mas devemos acima de tudo seguir a nossa intuição. Porque essa, por defeito, tentará sempre corresponder às necessidades do nosso bebé. E nesta relação entre os dois, mãe e filho, o amor é cultivado dia-a-dia...
Nem sempre vamos acertar à primeira. Aliás, será muito difícil fazê-lo, principalmente com o primeiro filho. Mas tentamos, continuamos a tentar sempre... E chegamos lá.
Como nos disseram na preparação para a parentalidade, "não há pais perfeitos... Faz-se o melhor que se sabe e se pode".
E ao seguir o nosso coração fazemos, sem dúvida, o melhor...
V.